Isso mesmo, eu estou – ou pelo menos estava – observando meu vizinho do apartamento em frente ao meu. Você não precisa saber nomes, apenas que eu moro há 3 anos no 9º andar de uma agitada rua. Mês passado um novo inquilino veio morar no apartamento em frente, mais precisamente no 9º andar, ou seja, a janela dele fica de frente para a minha, até ai tudo bem... Ou não.
Como você reagiria ao saber que o novo morador do apartamento à frente é um homem loiro, alto, olhos azuis, musculoso, lindo, charmoso, elegante – suspiro – ai, ai... E que apenas uma rua a separa do paraíso? Pois bem, eu me sinto assim...
Nesse mês que se passou, eu comecei a ter uma íntima convivência com o para-peito da janela, onde todo fim de tarde, após voltar do trabalho, eu me debruçava ali e admirava meu vizinho fazendo algo em seu quarto. Há uma semana atrás eu resolvi tomar uma iniciativa já que ele apenas ficava a me ver pelo reflexo do espelho, espertinho... Mas algo deu errado. Eu passei diversas vezes na frente dele na rua e o mesmo não olhou, seria ele tímido? Deve ser algo do tipo... Ele não iria me ignorar sendo eu uma mulher morena, cabelos compridos, olhos castanhos medidas ideais, belo sorriso, belo corpo, nada! Pois bem, narcisismos a parte voltemos ao meu relato.
Ele não dava o mínimo sinal de interesse! Ah, ele era tão tímido... Ou eu estava enganada...
O que houve? Por que você colocou esta escura cortina na janela de seu quarto, meu amor? Ei! Tire esta cortina e volte para o espelho! Eu quero trocar aqueles quentes olhares que nós trocavamos até ontem, meu querido pedaço de mau caminho! Não me ignore! Foi algo que eu fiz? Eu peço desculpas, prometo não fazer nada errado de novo! Ah! Será que é porque eu engordei? Olhei-me no espelho procurando qualquer gordura pelo corpo... Corpo... Hum... Ah! Então era isso? Você estava bravo, pois queria avançar mais em nossa relação não é, safadinho? Pois bem, abra logo esta cortina! Venha para cá!
Humpf, como ele é difícil, ficou com aquela maldita cortina em frente à janela por uma semana! Mas, quando ele tirou a mesma do lugar, devolvendo-me o campo de visão, não perdi tampo! Vesti a mais sexy de minhas lingeries e apareci na janela de meu apartamento. Ele por vez fez o mesmo de sempre! Olhou para o espelho um pouco depois saiu! Seria ele virgem? Acho que estava com medo de não conseguir dar conta de todo o material aqui. Eu realmente era muita areia para o caminhãozinho dele, hehe...
Certo final de semana eu dormi até tarde e sonhei com ele, um belo sonho, onde ele seduzia-me e me dominava, realizava minhas fantasias eróticas e mais obscuras, satisfazendo-me por completa. Acordei com um gigantesco sorriso nos lábios, decidida a terminar com este namoro a distância, estava farta disso, queria contato, calor corporal já! Levantei da cama – estava vestindo um pijama bem quentinho e confortável, um conjunto de calça e casaco em tom de rosa claro. Calcei minhas pantufas brancas e abri decididamente a janela de meu quarto, vendo que a dele também estava aberta e ele já estava vestido. O vi pegar a chave em seu molho e uma pasta preta, ele iria sair? Como assim? Não me falou nada! Iria me deixar aqui dormindo sem nem ao menos dar-me um beijo de despedida? Chega disso! Vamos colocar tudo em panos limpos e oficializar nosso relacionamento!
Corri para fora de meu apartamento, descendo as escadas do jeito que estava: pijama, pantufas e cabelo bagunçado, embaraçado e para o alto; desse jeito mesmo! A rua estava molhada e haviam algumas poças formadas no vão entre a rua e o paralelepípedo, pois choveu a noite toda. Parei na porta de meu apartamento e o vi sair do seu. Comecei a correr pela rua, passando entre os vários carros, ouvi vários xingamentos e barulhos de buzina, mas ignorei, estava correndo decididamente até tropeçar em meus próprios pés, cair sobre uma poça d’água suja e, para finalizar, um carro passar em alta velocidade sobre outra poça próxima a mim, terminando de encharcar-me por completo, obrigada.
Cai a apenas alguns míseros passos de distância dele, mas isso não foi o suficiente para ele perceber, pois estava com dois malditos red fones abafando o som da rua em seus ouvidos! Argh! Levantei-me deveras irritada, dei um pequeno chilique na rua com direito a movimentos corporais e gritinhos, o que chamou mais ainda a atenção das pessoas que ali trafegavam. Eu iria correr na direção dele novamente, mas comecei a ouvir risos demais para uma rua tão séria e comercial. Aqueles risos eram dirigidos a mim, céus! Eu devia estar horrível! O amor da minha vida não poderia me ver assim jamais! Em meu rosto jazia a expressão de desespero, as pessoas na rua ignoravam-me, riam ou jogavam esmolas, eu não quero isso...! Oh! Jogaram uma nota de dez reais! Posso ser orgulhosa, porém não idiota, peguei a nota e corri para meu apartamento.
Outra semana passou-se assim... Não acredito! Onde está toda a minha força de vontade e determinação? Eu não iria acabar logo com esta distância? Vamos, anime-se!
Novamente o vi pegar sua chave e sair, naquele dia eu havia me produzido no intuito de ficar a mais bela possível. Coloquei um vestido preto que mal passava das coxas e tinha um decote nos seios, calcei um salto alto estilo agulha e me maquiei mesmo sendo duas da tarde e fiquei ali na janela o esperando sair até aquele momento. Quando parei na porta do apartamento, ele estava saindo do seu e encontrando-se com um outro lindo homem.
Você não vai fingir que nada aconteceu entre nós e sair assim com seus amigos só porque eu não sei seu nome e nós nunca nos falamos verbalmente! Mas nós temos química, nós combinamos um com o outro, meu amor!
Corri - tentando manter o equilíbrio sobre o salto – na direção dele, outra vez sem me preocupar com os carros. Tomei a dianteira de modo que ele desse de cara comigo ao virar a esquina, porém outra vez o destino atrapalhou-me. Meu salto prendeu numa pedra e, desesperadamente, eu tentava soltar-me da mesma rapidamente, puxando meu pé para ver se saía. Até soltou, mas me fez ganhar um indesejado impulso e passar igual a uma desvairada na frente de meu vizinho e de seu amigo. Pelo menos desta vez ele – e seu amigo – me notaram.
–Nossa, você viu aquela mulher louca correndo na frente dos carros? – perguntou o amigo.
–Sim. Ela mora no apartamento em frente ao meu, não ligue, a mesma é assim estranha – respondeu o vizinho.
–Se conhecem?
–Não, mas ela tem um estranho hábito de vigiar os outros pela janela enquanto veste lingeries, manda beijos para todo mundo e ainda tenta seduzi-los. É louca.
–Nossa! – o amigo exclamou surpreso.
–Ela já andou na rua de pijama, como se estivesse num calçadão correndo ou algo do tipo. Tenho medo dela, por isso prefiro ignora-la e evita-la o máximo possível. – ambos permaneciam parados vendo a mulher recompor-se do outro lado da rua. – vamos embora antes que ela volte para cá, amor – segurou o braço do amigo.
–Ah, vamos sim, querido.
–Ah! Meu Deus! Como assim? EU NÃO SOU LOUCA! Mas, mas.... Meu vizinho... Meu vizinho é... GAY! Como assim? E tudo aquilo que passamos juntos não valeu de nada?! Você só estava comigo para disfarçar era isso? Eu te odeio, está tudo terminado entre nós! Até nunca, cafajeste! – exclamou no meio da rua, sem importar-se com as demais pessoas que a escutavam e a chamavam de louca entre um sussurro e outro.
Era isso, eu estava solteira de novo... Meu vizinho era gay e estava me traindo com seu melhor amigo! Para aonde eles iriam agora? Para uma montanha chamada BROKEBACK?
Chega disso, estou indo embora! Adeus!
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