Vírgulas - Fic (1 ao 3)

| quarta-feira, 18 de janeiro de 2012


Gêneros: romance, yaoi

  Sinopse
Como explicar? Quem nunca cansou de ouvir que o amor é cego – às vezes surdo, burro, etc. – e, principalmente, que não tem idade? Não se assustem, pois o último argumento já me foi motivo de surpresas e espantos diversos, mas depois que se acostuma, passa a ser mais uma vírgula em sua vida. Afinal, o que há de errado um garoto de 12 anos ser apaixonado por um homem de 28?



Capítulo 01 - Introdução
Eu não sou louco. Eu não quero chamar atenção. Não nesse assunto, quem sabe nos outros, confesso que sou meio revoltado com a vida e as pessoas. Não, eu não tenho nenhum trauma de infância, até porque dela eu ainda não saí. Eu tenho pais, eles se dão bem, tenho uma grande família onde todos se amam, uns de maneira verdadeira e outras de maneira falsa, mas enfim...

-“Você não dá valor ao que tem!”.
De fato, não dou.
-“Se eu fosse seu pai iria te bater até parar no hospital!”.
Mas não é, e se ele não bate é porque sabe que não faço por birra.
-“Eu teria vergonha de ter você em minha família”.
O sentimento é mútuo.

Eu não fiz nada de grave. Não matei ninguém, não fumei, não usei drogas e bebi um pouco; socialmente. Qual a diferença de agora para daqui a seis anos além da mudança no último algarismo de minha idade? Tsc.
Não venho de família pobre tão pouco rica; diria classe média. Aquela classe que você pode ter o que quiser se esforçar-se um pouco mais; pouca coisa mesmo.

06h30m
Segunda-feira. Ao menos isso eu posso dizer que odeio sem as pessoas me olharem torto dizendo: “Não reclame, tens a vida que qualquer um deseja!” – A esta altura eu já estava de pé, indo para a escola. Se você, leitor, em prontidão pensou que eu já fui reprovado centenas de vezes está enganado. Sou o único com 12 anos na 7ª série (8° ano) de minha sala. Certamente, se você pensou isso, é porque não via muito futuro para mim. Outro que absolutamente teria preconceito se encontrasse uma pessoa igual a mim em sua vida.
 Eu ia sozinho à escola, não era muito longe. Às vezes eu ia de bicicleta, às vezes de skate; sempre revezando para não enjoar, chegando sempre dez minutos antes de o sinal soar. Maldita pontualidade.
Eu era um dos primeiros a chegar e isso não era pretexto para não chamar atenção. Todos os dias. Acho que descobri a fórmula da popularidade: pinte o cabelo de verde. Pronto, quanto vou ganhar com isso?
Sim, eu, com 12 anos – repetindo para deixar bem claro – pintei o cabelo de verde, de uma tonalidade fluorescente, bem chamativo, porém sem motivos. Eu precisava de algo para extraviar a atenção de meu corpo que, aliás, não tinha muita diferença com relação a um cabo de vassoura, exceto pelo fato do último ser mais alto.
Exato, eu era o mais novo e baixo da turma, mais baixo que todos mesmo... Até das garotas. Humpf, que humilhante... Minha altura? 1,48m; feliz? Para finalizar meu perfil, meus olhos são azuis, meus cabelos são lisos pela mágica da química da tinta, que os enfraqueceu e esticou desse jeito e chamo-me Ayako.
Não tenho muitos amigos na escola, a mesma é puxada demais para desviar-se com essas coisas, não pelo fato de eu já ter passado de ano no terceiro bimestre em todas as matérias, mas por eu me importar em manter as notas acima da média e me gabar com aqueles números obtidos.
Moro numa cidade grande, cheia de prédios comerciais gigantescos e empresas para todos os cantos. Carros sendo dirigidos por motoristas particulares não é novidade por aqui; é mais uma vírgula. Falando em vírgula, posso dizer que sou daquelas pessoas que atravessa sem olhar, afinal, se o carro não parar, o prejuízo será do motorista, não?


12h00m
Sexta-feira. Como a semana passou rápido. É no passar delas que o ano aproxima-se mais de seu fim. É novembro, início ainda, mas é novembro. Para dezembro é um sopro, rápido como uma vírgula determinando um aposto.
Estava eu voltando para casa, desta vez preferi usar o skate como meio de transporte pessoal. Estava quente, muito quente mesmo; a hora do rush não ajudava muito quanto à temperatura ambiente, tornando a mesma mais elevada. Já estava quase chegando a casa, bastava-me apenas mais um quarteirão e mais uma rua para atravessar, a mesma estava bem vazia até, aquela coisa que a gente estranha, mas prefere deixar pra lá. Atravessei a rua calmamente, deixando-me levar apenas pelo embalo do skate que ainda restava, mas não pude deixar de franzir o cenho quando ouvi o barulho de uma freada, um barulho bem demorado. Procurei com a cabeça o barulho, que era uniformizado pela distância, sem saber ao certo de onde vinha, mas sabendo que ficava cada vez mais alto até que, enfim, consegui achar a direção e o causador do barulho.
Qual era a minha surpresa e certo princípio de infarto quando me deparei com uma limusine já praticamente em cima de mim, terminando de parar. Eu, por instinto, dei um pulo para trás, caindo sentado no asfalto quente enquanto que via o motorista daquele carro saindo enfurecido.

-Acaso não olha antes de atravessar, garoto? Não vê que o sinal está aberto?!

E ele apontou para o sinal. Eu? Sem reação, claro. Sabia que isso iria acabar acontecendo mais cedo ou mais tarde, mas eu realmente não faço minha paciência desfrutar de minha atenção ao atravessar ruas. Não mesmo.
Aquele tiozinho parecia estar mais era preocupado do que irritado, mas o que eu poderia fazer além de pedir desculpas? Ele estendeu a mão a mim, oferecendo-me ajuda para levantar, eu de prontidão aceitei. Quando me levantei, vi que a porta de trás do carro abria-se e dali saía outro homem.
Ual, como ele era alto!
O último aproximou-se do motorista sem esboçar emoção alguma, apenas analisando o ocorrido enquanto que eu batia a poeira da roupa.

-M-me perdoe...

Mas o que é isso? Eu gaguejei?! Ah, posso perdoar-me desta vez, aquele homem realmente era bastante assustador não apenas pela altura, mas pelo semblante sério, ele fitava-me como se o motorista tivesse quase atropelado um cão ou alguma outra coisa insignificante aos seus olhos.
Ele devia ter quase uns dois metros, não estou exagerando! Na hora me deu vontade de lhe perguntar a idade, mas achei melhor recolher minha insignificância no momento. Fora isso, seus olhos também eram azuis, porém bem mais escuros enquanto a coloração de seus cabelos era de um preto carvão. Trajava um terno, um par de óculos e uma áurea assustadora. Não disse nada, apenas fitou o motorista virar-se de encontro a ele já se tremendo nas bases, o que me fez ter mais medo ainda. Se aquele velho motorista tremia ao olhá-lo, quem seria eu em não fazer o mesmo?

-D-d-daiki-sama! P-perdoe t-tê-lo feito esperar! – o reverenciava vezes seguidas.
-Vamos logo.

Foi a única coisa que ele disse antes de voltar ao carro, sabendo que nada de grave havia acontecido com o mesmo. Eu? Acho que ele nem se deu conta de que havia um ser humano ali. Enfim, recolhi meu skate e fui rapidamente para o outro lado da calçada, vendo apenas a limusine disparar em velocidade, deixando apenas a poeira levantada e as marcas do pneu por conta da parada brusca.


Capítulo 02 – Hábito de segunda à sexta.
Poxa, confesso que depois do que me aconteceu eu passei a prestar mais atenção na rua. Passei a amar mais minha vida quando percebi que poderia perdê-la, mesmo com o motorista arcando com tudo. Mas confesso também que depois do que me aconteceu eu passei a observar que sempre naquele horário a limusine passava, às vezes dava pra ver aquele homem sinistro dentro do carro quando este passava com o vidro abaixado, mas em nenhuma das ocasiões ele mudava a expressão que usava.

12h00m
Quarta-feira. Meio do mês; meio da semana. O colégio iria fazer um conselho de classe na quinta e, portanto, eu iria enforcar na sexta por livre e espontânea preguiça.
E novamente a limusine passava e eu apenas a acompanhava com o olhar, como um hábito que eu executava há anos e meu cérebro não precisasse mais me obrigar a fazer tal coisa, já era automático; mais uma vírgula em minha vida. Entretanto, como todo bom – ou mal – vício, quando se quebrava a rotina uma única vez podia-se sentir a falta do mesmo e foi o que aconteceu na quinta, no mesmo horário. Foi estranho não ter seguido um “hábito de segunda a sexta” – e isso existe? Nah, talvez seja o meu tédio...
Fui dormir muito tarde mesmo, a última vez em que olhei o relógio o mesmo já passava das três da matina e eu estava morto de sono já prevendo acordar só depois das 14hs; contudo, não me privei de deitar e ficar pensando naquela limusine, em seu motorista e, enfim, em seu passageiro. Aquilo já estava me impregnando demais à mente para ser um simples “hábito de segunda à sexta”.

11h30m
Acordei. Acordei?! Ah... Acordei... Tsc... Mesmo ainda estando com sono e exausto, meu relógio biológico me faz acordar “cedo”. Sabia que não iria conseguir dormir novamente até depois do almoço. Sentei-me na cadeira do pc e liguei o mesmo, resolvendo visitar alguns blogs de humor para passar o tempo, mas conforme eu passava cada página do tal blog, minha mente viajava mais ainda. Olhei no relógio e já eram quase 12hs. Impossível não ligar o horário com a maldita limusine e o homem da mesma. Ai está: “o homem da limusine”, até porque eu não gravei o sobrenome do mesmo quando o motorista disse, mas sei que começa com P, tenho certeza de que começa com P!
Aquilo me consumiu a atenção, fiquei encasquetado querendo lembrar o sobrenome da criatura enquanto que olhava várias vezes o relógio, vendo que o 11 tornava-se mais próximo de virar 12. Levantei num estalo, trocando rapidamente de roupa e pegando minha bicicleta. Corri até a rua e comecei a pedalar rapidamente como se tivesse um compromisso e estivesse em cima da hora. Parei a bicicleta naquela rua que eu sempre via a limusine, vendo a mesma passar com as janelas abertas, mas desta vez só com o motorista. Franzi o cenho estranhando aquilo até depois me dar conta de que eu havia me apressado para simplesmente chegar aqui e olhar a limusine passar, não sabia que minha inveja era tão grande assim.
Resolvi seguir a limusine já pensando que talvez não fosse apenas inveja. A mesma parou a três quarteirões de distância de onde eu atravessava. Perto. Só o motorista saiu, comprovando que não havia mais ninguém ali.
Parei minha bicicleta na entrada da empresa, ficando ao lado da mesma. Logo pude notar um grupo de jovens, deviam ser um ou dois anos mais velhos e um tutor, deduzi que aquilo fosse uma excursão informal à empresa já que nenhum deles estava uniformizado, apenas carregando uma pulseirinha de identificação do lado esquerdo. Quando desviei meu olhar a fachada do local fui surpreendido por outro tutor, que entregava-me uma das pulseirinhas e levava minha bicicleta ao bicicletário, achando que eu também fosse participar da excursão.

-Erh... Senhor, eu n--
-Vamos, rapaz, depressa! A excursão já vai começar, cuidado para não se perder.

E me empurrou esboçando um sorriso enquanto que eu desesperava-me com medo de acabar dando de cara com o homem da limusine, olhei para trás, mas havia um tutor ali e outro na frente, nos monitorando enquanto que um terceiro falava sobre a empresa e eu nem ao menos prestava atenção, pois estava ficando cada vez mais agitado conforme adentrava o local, procurando saídas de emergência, aquele lugar não tinha saídas de emergência! Se pegasse fogo? Todos iriam morrer carbonizados! Entramos no elevador, céus, eu já estava com a respiração descompassada, não pensava mais em nada, apenas rezava para acabar logo com isso, mas... Espere ai... Eu estou fazendo drama à toooa! Ele nem deve lembrar-se de mim. Ah... Como eu estou sendo idiota... Relaxei e aquilo foi claramente percebido por quem estava atrás de mim, me dei até o direito de esboçar um sorriso naquela hora e prestar atenção no que o tutor falava.

-Crianças nós estamos indo agora para o setor administrativo, é aqui que trabalham os chefes e secretários, os funcionários ficam no andar debaixo, mas, como iremos apresentar a empresa de cima para baixo, depois veremos o andar dos empregados e... – a porta do elevador abriu-se no terceiro andar, fazendo o tutor assustar-se um pouco ao deparar-se com alguém logo em frente ao elevador, esperando para entrar no mesmo – Oh! Boa tarde! Crianças, este é o senhor Fumiko Daiki, presidente da empresa e seu filho, o vice-presidente Fujo Daiki.

Fujo... Daiki...? Que estranho. Esse sobrenome me é familiar... Não demorei muito para recordar, um estalo me veio à cabeça e eu prontamente movi a mesma para o lado, querendo ver o filho do presidente, que estava atrás do mesmo. Qual não foi minha reação ao ver o homem da limusine ali?
Os demais que participavam da excursão olhavam admirados o presidente, um senhor de poucos, porém brancos cabelos, sorridente, de boa e simpática aparência. Já o filho? O contrário.
Fui me esgueirando até o canto do elevador, escondendo-me atrás do tutor e no meio dos jovens, achando, pela primeira vez, uma vantagem em ser baixinho.
Mas que merda! Com tanto lugar ali na frente para ficarem, os dois foram logo para o fundo do elevador, ficando no canto oposto ao meu. Sou muito discreto, olhei o tempo todo para ele pensando se o mesmo iria me reconhecer. Já disse que sou discreto, né? Então, minha descrição foi tamanha que lhe chamou a atenção encontrando seu olhar ao meu. Oh céus, o que eu faço agora? Abaixei rapidamente a cabeça junto com o corpo, me escondendo naquele meio de jovens até todos saírem no último andar, cada um tomando seu rumo: excursão para direita, presidente para frente e filho para a esquerda, os dois últimos entrando em salas diferentes. Suponho que sejam seus respectivos escritórios.
Fiquei olhando a porta da sala que o homem da limusine entrou enquanto que andava, desacelerando o passo gradativamente ao ver que agora eram os dois tutores na frente e todos os jovens atrás. Andei rápido, porém sem deixar que os sapatos fizessem barulho, indo em direção à porta que ele havia entrado. Analisei a mesma, tentando olhar o lado de dentro pela fechadura, tentei alguns segundos até ser surpreendido pelo girar da maçaneta, pensando que meu fim era agora que ele abria a porta e dava de cara comigo mostrando, pela primeira vez, alguma expressão diferente da atual, no caso, o de leve surpresa por não esperar uma criança prostrada ali na porta.

-Perdeu-se?
-Erh...

Emudeci. Acenei apenas com a cabeça que sim, evitando olhá-lo. Já ele arqueou uma das sobrancelhas, fitando-me com certa interrogação na face.

-Você não é--? – o interrompi.
-D-do quase atropelamento...? – Mas que diabos eu...!?
-Exato.
-Erh, bem... – ri baixo e nervoso – sim, sou, homem da limusi...Arn! – pigarreei, cortando-me.
-O que disse?
-N-nada!
-Pois bem, peço desculpas por meu motorista pelo feito, se veio aqui ressarce-se pode retornar segunda-feira ou tratar com meu secretário. No momento estou de partida.

E ele foi. Sem esperar resposta nem nada, só saiu andando. Eu confesso que não entendi quase nada do que ele disse; que fala mais rebuscada... Mas entendi perfeitamente a parte do “retornar segunda-feira”. Deixar com secretários nunca dá certo... Ou será que dá? Enfim, eu volto segunda. ~


Capítulo 03 – O homem da Limusine
Nossa, que final de semana arrastado! Mal podia esperar pela segunda, pela primeira vez na vida eu a desejei. Não vou ser falso tão pouco humilde em dizer que alguém muito importante disse para eu ir à sua empresa hoje; como me sinto poderoso e importante todas as vezes que me lembro das palavras dele: “retornar segunda-feira”. Se essa frase tivesse cor eu juro que pintava o cabelo do tom dela.

12h01m.
Estava eu de skate passando pela rua de sempre depois da aula, pretendia ir lá depois do almoço, de tardinha, para não parecer muito afobado em chegar. Eu estava voltando para casa e, pela primeira vez desde que o adquiri, me esqueci do meu “hábito de segunda a sexta”, ou seja, a limusine. Ela estava parada no sinal, esperando os pedestres passarem e o primeiro abrir para prosseguir. Passei olhando para o vidro do carona, que estava fechado, mas aquilo era o meu hábito, o que poderia ser feito se eu não estava me policiando para contê-lo? Balancei rapidamente a cabeça para os lados, tomando impulso no skate para chegar o mais rápido possível em casa.
Cheguei a casa e fui diretamente para o chuveiro, almoçando ao término do banho. Descansei um pouco na sala com meus pais, vendo TV. Algum programa qualquer para poder puxar um assunto aleatório ou outro. Arrumei-me e sai achando melhor ir de bicicleta.
Meus pais eram bem liberais até, eles trabalham a semana inteira e só estão em casa no intervalo do almoço e no fim da tarde, não podendo me privar de fazer as coisas, até porque eu faria mesmo assim; não tendo ninguém para me vigiar, eu estou no lucro.

14h37m.
Cheguei à empresa. Não sabia ao certo que roupa usar para ocasião e, portanto, optei pela social – jeans e uma camisa verde musgo, contrastando com a cor artificial de meus cabelos. Parei na recepção e falei com a mulher que estava no mesmo, contando sobre sexta, a mesma me ouvia atentamente, até com certa simpatia, como se estivesse ouvindo um bebê falando suas primeiras palavras.

-Awn. Claro, meu bem. É no último andar, enquanto você sobe, eu aviso ao senhor Daiki que você está indo, ok? Ele não irá negar atenção a uma coisa fofa como você.

E ela sorriu deixando-me corado de vergonha. Agradeci sem graça, o que pareceu combustível para a reação dela, já que eu ficava na ponta dos pés para alcançar os cotovelos no balcão. Dirigi-me até o elevador, chamando pelo mesmo. Pouco tempo depois eu já estava no último andar, já sabia que agora aquele lugar que ele havia entrado na sexta era seu escritório. Fui até o mesmo e bati a porta de maneira vacilante, temendo fazer muito barulho e aquilo resultar em uma bronca, porém ouvi apenas um “entre” vindo do outro lado da porta.
Abri com o mesmo vacilo que bati, enfiando a cabeça dentro do escritório do mesmo, já logo ficando boquiaberto em ver o quão grande era aquele lugar, com direito até a um banheiro particular. A mesa dele ficava no centro do local. Na frente da mesma, duas cadeiras para receber visitas e, de frente para estas, uma enorme e aparentemente confortável cadeira; entre a cadeira e a mesa estava ele com os olhos colados no monitor do computador de última geração, cuja luminosidade refletia em seu rosto. Atrás dele não havia uma quarta parede de concreto, mas sim uma toda de vidro, que dava vista para a cidade quase toda quando as cortinas estavam recolhidas, como era o caso.
Ao lado da mesa havia a porta para o banheiro, só soube pois a mesma estava aberta enquanto que do outro lado do móvel haviam estantes com livros diversos cujos quais não olhei os temas, desviando o olhar para o sofá de dois e três lugares; era espaçoso e aparentava ser confortável. Ao lado do sofá menor havia um pequeno frigobar e uma mesinha de centro entre ambos. Eu estava tão perdido naquela decoração bela e sóbria, abusando dos tons preto branco e azul de uma maneira tão harmoniosa e, como posso dizer... “Adulta” seria a palavra certa?
Tive minha atenção desviada ao dono daquela espécie de “mini mansão” quando o mesmo pigarreou, olhando-me sobre os óculos, porém sem desviar o rosto do monitor, apenas fitando-me.

-Então?
-E-então? Ahn...
-O que gostaria de ter como ressarcimento, jovem?

Parei e pensei... Até pose de pensador fiz, levei a mão destra ao queixo, olhando ora para o chão, ora para o teto, pensando no que poderia pedir daquele homem. Ele era rico, não? Eu poderia pedir o que quisesse até mesmo uma casa que ele me daria como se estivesse dando um kinder ovo a um qualquer. Pude ouvi-lo suspirar, dando-se por vencido ao ver que eu iria levar um tempo para pensar. Ele então retirou os óculos, coçando os olhos fatigados da claridade do monitor, deixando o mesmo de lado por alguns instantes enquanto descansava os olhos, aguardando a minha quebra no que se referia ao silêncio.
Eu pensei em tantas, tantas coisas, mas nada parecia me satisfazer naquele momento... Um brinquedo? Não... Uma roupa? Não... Um carro? Ainda nem tenho idade para dirigir... Uma casa? Para quê eu iria querer ter isso agora? Ah... O que eu poderia pedir? Ele já estava ficando impaciente, pelo visto não era uma pessoa de aguardar muito. Mas finalmente eu decidi o que iria querer dele. Coloquei as mãos na cintura, esboçando um sorriso confiante.

-Então? – tornou a perguntar. – Já se decidiu?
-Sim! – respondi determinado, apontando o indicador destro na direção do homem da limusine. – Quero que você seja o meu namorado!

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