Vírgulas - Fic (19 ao 21)

| quarta-feira, 19 de junho de 2013
Capítulo 19: Passado
 Quando minha mãe teve o Akio eu já tinha 11 anos e, como todo irmão mais velho, eu tinha o dever de cuidar e protege-lo em qualquer situação. Qualquer.

-Fujo-chan, agora que você tem um irmãozinho terá que cuidar dele quando estivermos fora, ok? – disse minha mãe.
-Haaaai! Posso segurá-lo? Posso, posso?
-Claro, Fujo-chan!

Minha mãe estava sempre sorrindo. Um sorriso acolhedor e contagiante. Ela era uma pessoa naturalmente feliz, daquelas que não precisava de motivo algum para sorrir, apenas o fazia.
Quando Akio completou três anos, nosso tio havia ficado muito próximo dele e aquilo era a última coisa que eu desejava na vida, pois sabia o que significava. Um dia, nossos pais foram passar o final de semana fora a trabalho e ai era o nosso tio quem ficava tomando conta. Eu havia perdido Akio de vista e comecei a procura-lo pela casa já me desesperando só de pensar que ele poderia estar sozinho com nosso tio. Quando passei por um dos escritórios da casa, pude ouvir a voz do mais velho da casa. Colei a orelha na porta e pude ouvi-lo dizer algumas coisas.

-Vamos, Akio-chan, seu irmão não gosta mais de brincar comigo.
-Por que não?
-Ele é um menino muito mal.
-Meu irmão é mal? – ele perguntou já quase chorando.
-Sim. Muito mal. Você não quer ser igual a ele, não é?
-N-não...
-Então você tem que fazer o que o seu querido tio mandar, está bem?
-Pode deixar, tio!

Eu arregalei os olhos ao escutá-lo dizer aquilo, tentei abrir a porta, mas a mesma estava trancada, o jeito era dar a volta pela casa e entrar pela janela. Corri como nunca havia corrido em meu pouco tempo de vida, dando a volta na casa e tentando entrar pela janela, que estava trancada e com as cortinas fechadas. Eu estava ofegante e desesperado sem saber o que fazer quando ouvi novamente a voz de Akio.

-O que o senhor está fazendo, tio?
-Não vai doer nada, Akio-chan, eu prometo.

Aquela voz mansa e alegre dele me enojava. Cerrei fortemente os punhos ao ponto de sentir o sangue escorrer dos mesmos, corri até a piscina e peguei uma das cadeiras de praia, tirando forças, sabe-se lá de onde, para jogá-la pela janela, quebrando-a em míseros cacos de vidro dentro do escritório. Quando meti a cabeça para dentro já procurando preocupado por Akio, pude vê-lo praticamente despido sobre a mesa, nosso tio sobre ele com as calças abaixadas, já segurando o próprio membro que tocava meu irmão, quase o penetrando. Quando vi aquela cena pensei que um segundo a mais seria fatal para a vida de meu irmão.
Ambos fitavam-me assustados e eu entrava pela janela pouco me importando para os cacos que cortavam cruelmente minhas mãos, alguns permanecendo aonde haviam rasgado. O fitava com puro ódio, ofegando da mesma forma.

-Akio, saia dai.
-Mas, nii-chan, o tio ia brincar comigo!
-EU MANDEI SAIR!

Akio afastou-se de nosso tio enquanto que eu me aproximava do mesmo, ele estando a me fitar agora com seu típico sorriso sádico nos lábios, deixando que meu irmão saísse da mesa. Mandei Akio vestir-se e enquanto ele fazia isso, pude ouvir a voz do mais velho dirigida a mim.

-Eu só estava brincando com seu irmão, Fujo-chan...
-Não seja hipócrita! Eu sei muito bem o que você iria fazer com ele! E quando meus pais voltarem, eu irei contar tudo a eles!
-Se você contar... – ele retirou uma arma do bolso de trás e apontou para Akio – EU MATO SEU IRMÃO!

Ele ria como se houvesse escutado a piada mais engraçada deste mundo e eu não sabia o que fazer naquela situação. Abaixei a cabeça custando a segurar as lágrimas que rolavam de meus olhos, pois eu sabia que teria que voltar a me sacrificar para manter meu irmão são.

-Pois bem, velho. Você vai ter o que quer, só deixe meu irmão fora disso. – disse seco.
-Hum... Obediente, você. – ele aproximou-se de mim, pegando-me fortemente pelos cabelos. – Já que você me interrompeu, pode continuar.

Eu tentei pedir para que ele ao menos deixasse meu irmão sair, não era necessário ele ver aquilo, mas logo minha boca já havia sido ocupada pelo membro dele, que estocava até a goela ao ponto de provocar-me mais ânsia de vômito do que eu já tinha pelo fato dele estar obrigando-me a fazer aquilo, mas eu tinha que aceitar tudo, pois ele mantinha a arma apontada para a cabeça de meu irmão, que assistia horrorizado.
O velho parecia ficar mais excitado tendo outra criança assistindo. Seu membro pulsava em minha boca e então ele levantou-me pelos cabelos, me fazendo deitar o tronco na mesa do escritório, de bruços para ele, que se encaixava atrás de mim, penetrando de uma única vez seu membro em meu corpo. Eu mordi fortemente o lábio inferior para não gritar e dar esse gostinho a ele, mas as lágrimas rolavam. Lágrimas de vergonha. Lágrimas de raiva. Eu concentrava-me em algo qualquer para tentar suportar a dor de ter alguém a estocar-me loucamente sem preocupar-se em estar ou não me machucando. Ele queria era apenas satisfazer seu desejo por sexo, descontando tudo em mim. Meu irmão chamou-me fraco, fazendo-me fita-lo. Ele estava ameaçando vir para perto de mim e eu apenas o fitei num misto de raiva e desespero, gritando.

-FIQUE AI!
-M-mas... Nii-chan...
-E-está tudo bem... Aki-chan... Está tudo bem...


Capítulo 20: Após a Tempestade
Eu tentei esboçar um sorriso para meu irmão, mas precisei de muito para conseguir fazer aquilo. Ele apenas limpava as lágrimas sabendo da dor que eu estava sentindo. Akio era esperto, pegava as coisas rápido. Meu tio gemia cada vez mais alto, o que me fez entender que ele já estava terminando, mas, antes dele ejacular dentro de mim, senti uma dor forte no pescoço, quando olhei para o lado ele havia cravado os dentes ali fazendo sangrar muito e sem parar, ejaculando dentro de mim em seguida, o que me fez apertar fortemente os punhos outra vez, socando a mesa com a pouca força que tinha na época.

-Ahhh, Fujo-chan... Como você é delicioso, menino...

Ele caía exausto sobre mim e eu me mantinha imóvel, com vergonha e sem coragem de olhar para a cara de Akio. Pude senti-lo retirar o membro pouco tempo depois, levantando-se e limpando o pênis sujo de sangue. Ele virou-me de frente, fazendo o fitar nos olhos enquanto que me olhava sério.

-Fomos assaltados, jogaram a cadeira pela janela e levaram o computador. Você acordou assustado, foi ver o que era, mas já tinham ido embora. Foi até a janela ver se tinha alguém no quintal, mas acabou tropeçando e caindo nos vidros, cortando as mãos. Entendeu? – ele falava pausadamente e eu concordava no final. – Isso mesmo. Bom garoto.

Meu tio saiu do escritório e eu pude cair de joelhos no chão, socando o mesmo repetidas vezes. Sentia-me um inútil naquele momento. Akio veio engatinhando até mim e segurou meu braço, puxando-o levemente algumas vezes. Ao menos confortou-me o fato de nada ter acontecido a ele. Eu o peguei no colo e abracei apertado, sujando a roupinha do mesmo com o sangue de minhas mãos.

-Nii-chan...?
-Me perdoe, Akio... – solucei – Você não devia ter visto isso...

Os anos passaram-se e nada havia mudado. Akio estava agora com quase seis anos e não era uma criança feliz, do contrário, não brincava com ninguém nem consigo mesmo. Meus pais estavam preocupados com isso. Meu irmão queria passar o tempo inteiro comigo, abraçado a mim e eu, já com 17 anos, sabia disfarçar o que acontecia quando estava com meus pais, mas Akio sabia como eu ficava quando estávamos a sós. Certo dia meu tio parou-me no corredor, sussurrando.

-Aonde está seu irmão?
-O que você quer com ele?
-Me responda.
-Está no meu quarto, por quê?

Ele nada disse, apenas me arrastou pelo braço até lá, jogando-me para dentro do mesmo e trancando a porta atrás de si. Akio já me olhava assustado, abraçando uma de minhas pernas e eu apenas o protegia, dizendo que tudo ia ficar bem.

-Bem, agora que o nosso querido Akio-chan já está grandinho, acho que ele já pode participar de nossa brincadeira, Fujo. O que acha?
-Eu disse para deixa-lo fora disso, velho!
-Você já está crescido, Fujo, não tem mais aquele ar angelical que seu irmão tem. – ele tirava a arma do bolso de trás e Akio corria na direção dele, abraçando-lhe uma das pernas.
-AKIO! O que está fazendo?! – perguntei desesperado.
-Ele já deve estar cansado de assistir, não?

Disse meu tio, agachando-se e acariciando o rosto de meu irmão enquanto segurava a arma com a outra mão de maneira frouxa. Akio não fazia nada. O mandei voltar, mas ele permaneceu ali quieto. Eu não podia chegar perto, caso contrário ele atiraria em mim e ai sim não haveria mais ninguém para proteger Akio.

-Akio, volte aqui! Você não tem que carregar esse fardo, meu irmão!

Ele nada respondeu o que fez o velho sorrir largamente, um sorriso malicioso e voltado ao meu irmão. O mesmo esperou a hora certa para então tomar a arma da mão de nosso tio e sair correndo. Já o velho o fitava incrédulo assim como eu, principalmente pelo fato de meu pequeno irmão estar apontando a arma para o dono da mesma.

-Você não vai fazer isso com seu tio, vai? – perguntou ele, com certo medo.
-Akio, não faça isso! AKIO!

Eu corri até meu irmão no intuito de tentar tirar a arma da mão dele, mas foi tarde demais. Ele disparou. Quatro vezes. Eu lembro muito bem os locais do tiro: um na cabeça, outro no coração e dois no pênis. O que me fez pensar se aqueles tiros haviam atingido por acaso aquelas três regiões. O barulho do tiro chamou logo a atenção de todos da casa: empregados e moradores. Eu ia tirar a arma da mão de meu irmão, mas ele a segurava firme, não querendo soltar.

-Akio, me dê essa arma, assim vão acha que foi você quem o matou. Largue isso!
-ME DEIXE, FUJO!

Eu parei o fitando assustado, ele estava com os olhos marejados, mas não queria chorar. A essa altura todos já estavam no local, inclusive minha mãe, que fitava chocada o filho mais novo dela com uma arma em mãos. Tentei dizer que fui eu quem havia feito aquilo, mas Akio desmentia tudo, atirando novamente em nosso tio para provar que havia sido ele o atirador.
Meu pai foi conferir a pulsação de seu irmão e não a encontrou, dando-o como morto. Ele então dispersou os empregados que estavam chocados com a cena e ficamos apenas nós quatro ali em meu quarto, com o corpo de meu tio estirado no chão. Meus pais pediram para contar o que aconteceu e nós dois achamos melhor contar tudo de uma vez, sem esconder mais nada deles.
Eles ficaram horrorizados com a história. Lembro até hoje perfeitamente do semblante de minha mãe. Ela não sorria, estava séria. Acho que aquela foi a primeira vez na vida em que eu a vi séria. Ela abraçou-me forte e com ternura, um verdadeiro abraço materno enquanto que chorava sem parar, afagando meus cabelos.

-Você é um ótimo irmão, Fujo... Eu tenho orgulho de você, meu filho...

Ela virou-se depois para Akio e fez o mesmo, pois, afinal, ele também havia me protegido no fim de tudo. Nossos pais nos levaram a psicólogos diversos, ocultando o motivo da morte de meu tio, alegando que fora natural, cremando-o e jogando as cinzas no mar, levando com ele qualquer prova de que fora assassinado. Os empregados foram todos demitidos e silenciados, contratando novos juntamente com a matriarca. Meu pai disse que achava melhor nós nos mudarmos para poder deixar as más lembranças ali, mas eu me recusei. As lembranças não estavam na casa, elas estavam em minha cabeça, em meu corpo. A mordida que ele me deu anos atrás acabou formando uma cicatriz e nunca mais iria desaparecer dali. Meu pai ofereceu, ao menos, trocar meu quarto, mas eu recusava tudo, não queria mudar nada e Akio também não mudou.
Quando fez um ano da morte de nosso tio, nós estávamos passando férias numa casa de praia. Akio com quase 8 e eu com 18. Caminhei até a beira da praia, já era fim de tarde e eu já podia sentir aquela brisa fria do mar. Sentei-me próximo a água e fiquei ali pensando enquanto olhava o horizonte. De repente Akio sentou-se ao meu lado, fazendo o mesmo. Eu o puxei para meus braços, acomodando-o em meu colo e ele alegrava-se com aquilo, as sessões com o psicólogo surtiram efeito nele, afinal, ele ainda era criança, poderia amenizar rápido a situação. Com as sessões, ele já sorria e brincava mais, não como uma criança normal, porém já era um grande avanço. Suspirei pesado, porém decidido, olhando para meu irmão.

-Akio-chan...
-O que foi, nii-san?
-Eu vou me tornar forte.
-Para quê?
-Para poder te proteger.
-Mas você já me protege.
-É? Não acho. – lhe baguncei os cabelos, brincando e fazendo-o rir baixo.
-Pois eu acho. Sou eu quem deveria me tornar forte para poder te proteger como você me protege!
-Nada disso. Aproveite a vida. Seu irmão mais velho estará aqui sempre para lhe salvar. Não se preocupe.
-Nii-san...

Eu sorri para ele. Um sorriso sincero e gentil. Sorrir. Acho que aquela foi a última vez em que eu fiz isso com tanta espontaneidade e sem saber que naquele momento Akio já começava a nutrir algo por mim. Daí em diante entrei em cursos de lutas diversas, treinava e lutava o dia inteiro, todos os dias. Eu precisava ter um corpo forte e bons reflexos para poder estar preparado para tudo. Meu corpo se desenvolveu, criaram-se músculos, eu peguei altura e até minha voz engrossou. Eu estava realmente forte e aprendendo a controlar o medo para, assim, encontrar a coragem.

Capítulo 21: Irmãos
Quando atingi os 22 anos, Akio já estava com 11, ou seja, eu tinha o dobro de idade. Ele estava numa fase de ter pesadelos constantes e corria sempre para o meu quarto, nunca para o de nossos pais. Certa noite ele teve outro pesadelo e foi para o meu quarto. Eu já estava trabalhando e terminando a faculdade, fora isso eu ainda treinava, tinha que estudar para as provas e deixar o trabalho em dia já que eu era secretário de meu pai, que virou presidente com a morte de meu tio e deixou o cargo de vice vazio. Ou seja, eu havia apagado na cama, nada iria me acordar depois de seis horas de sono revigorantes.
Akio subiu em minha cama e deitou-se ao meu lado, abraçando meu braço, foi ai que notei a presença dele, logo o puxando para um abraço e o reconfortando em meus braços. Na época, eu estava interessado em uma garota que estudava comigo e naquele momento eu sonhava com ela, era um sonho agradável, até. Nada demais. Mas no sonho ela me beijava e, nossa, como aquele sonho era realista. Eu retribuía ao beijo que se acalorava mais, porém acordei num pulo quando senti uma pequena mão invadir minha calça de algodão e, quando vi, a pessoa quem eu beijava esse tempo todo com ardor era Akio, não a garota dos meus sonhos. Aliás, nossos lábios ainda estavam colados e eu os afastei rapidamente, confuso e assustado por ter beijado meu próprio irmãozinho. Será que fiz isso a força? Céus...

-Me perdoe, Aki-chan, f-foi sem querer!
-Nii-san... – ele me fitava entristecido – então você não gostou?
-D-do que está falando, Akio? Eu não o beijei?
-Não. Eu o beijei. E você parecia ter gostado...
-P-porque fez isso, nii-chan?
-P-porque... – ele desviou o olhar com o rosto vermelho. – Porque eu te amo, meu irmão...
-Você deve estar confundindo as coisas, Akio. Eu entendo.
-Eu não estou, Fujo!
-Você ainda é novo demais para amar e até mesmo para pensar em gostar de outra pessoa, principalmente outro homem.
-Mas eu te amo, Fujo. Estou falando sério. – ele começou a chorar.
-Shhh... Acalme-se e vamos voltar a dormir, ok?

Ele assentiu com a cabeça e logo adormeceu. Eu o fitava perplexo com o que havia acabado de acontecer e realmente não estava acreditando naquilo. Certo dia - para ser mais exato, certa sexta-feira -, fim de expediente e fim do último período da faculdade, ou seja, eu havia terminado a mesma e estava saindo da última aula junto com todos da turma para comemorar a formação com uma singela despedida. Estavam todos de minha sala, incluindo a moça com quem eu sonhava ultimamente. Nos últimos meses ela andou deixando bilhetinhos em minha mesa para nos encontrarmos e andamos até nos envolvendo com beijos e carícias mais profundas. Sem dúvidas eu estava apaixonado por ela. Como nunca estive. Foi que descobri minha capacidade para amar. Eu estava realmente feliz, pois estava amando e sendo correspondido. Como bom cavalheiro que meu pai me ensinou a ser, eu a levava para casa, dava-lhe presentes e toda minha atenção a ela, sem nunca a forçar a nada. Certa vez ela convidou-me para entrar e tomar algo. Eu acabei passando a noite inteira lá e não bebi uma gota d’água. Não precisava. Quando acordei na cama dela, ao seu lado, acabei sorrindo em perceber que quando se amava alguém, relacionar-se com a pessoa era algo mágico, esplêndido, magnífico, não sangrava e, principalmente, era indolor.
Eu a pedi em namoro depois daquela noite e ela aceitou emocionada, o que me deixou mais feliz ainda, como se meu peito fosse explodir em comoção. Contudo, depois da despedida da classe, eu pretendia leva-la para um local mais reservado e adequado para, assim, pedi-la em casamento. Eu sabia que namorávamos apenas a alguns meses, mas meu amor por ela não era igual. Eu podia sentir claramente que largaria tudo, até mesmo meu pequeno irmão por ela.
A reunião foi alegre e divertida. No final todos se despediram e seguiram seus rumos. Já era de madrugada e estávamos apenas ela e eu na porta do bar que usamos para comemorar. Ela disse que estava esperando alguém ou algo do tipo e que não poderia sair no momento.

-Lisa-chan, eu queria te fazer uma pergunta muito importante... – estava criando coragem.
-Claro, Fujo-kun. O que é? – ela perguntou animada, sempre sorridente.
-Ahn, bem... Lisa-chan... Você... Você... Q-quer se casar comigo?

Retirei a pequena caixinha do bolso, abrindo-a e mostrando o anel cheio de brilhantes encrustados ali, ela fitou-me surpresa com a pergunta, como se não acreditasse. Estava séria e aquilo não me agradava nem um pouco...

-Fujo-kun... Me perdoe... Mas é... É que eu estou grávida e---
-Grávida? – exclamei animado – e porque a gravidez a impede de casar? Não devia ser o contrário, Lisa?! – Eu estava com um sorriso de orelha a orelha e ela permanecia séria.
-Bem é que... O filho... Ele não é seu e bem... – contava tudo aos poucos, o que me feria mais do que se ela contasse de uma vez. – Eu já namorava um outro rapaz antes de você e eu vou me casar com ele... O filho é dele...
-Como sabe? – perguntei sério, sem nenhum resquício do sorriso de antes.
-Ah, é que você sempre cuidou direitinho da parte de se prevenir e essas coisas e o outro já era mais descuidado e bem... Eu namorava com você porque você era mais rico do que o outro e eu...
-Queria dar o golpe do baú em mim, mas parece que o outro já fez isso por mim, não? – perguntei enojado.
-Exatamente... Por favor, Fujo-kun, não fique com raiva de mim... É que eu quero muito mesmo ser mãe, mas não queria que meu filho passasse por dificuldade financeira alguma...
-Então você nunca me amou? – nesse momento chegou o outro, o noivo dela.
-Lisa-chan! Desculpe! Eu a fiz esperar?
-A-ah, não, não.
-Então, quem é seu amigo?
-A-ah... Amigo?
-Prazer, Fujo Daiki. Colega de classe de sua noiva.
-Ah, olá, Fujo-san. Lisa-chan me falou bastante de você.
-Falou, é? Interessante. Bem, tenho que ir agora. Boa noite e felicidades a ambos.

Eu disse sem conter o tom irônico voltado a ela, o noivo parecia não ter nem percebido a alfinetada e sorria acenando. Como se não bastasse, ainda falava de mim para ele como se eu fosse um reles amigo. Meu coração estava em pedaços e os pedaços em pedaços tão finos que se assemelhavam a pó. Virei a primeira esquina e soquei fortemente a parede, rachando o local. Eu havia sido enganado. Traído. Eu estava novamente na estaca zero, desiludido e sofrendo por causa de segundos outra vez. Entrei no primeiro bar que vi e bebi até o dono me expulsar.
Não havia outro lugar para ir a não ser a minha casa. Entrei na mesma custando para acertar a chave no buraco, parece que haviam colocado mais centenas de buracos em volta do correto. Quando consegui entrar foi outra batalha para fechar a porta. Fui até meu quarto levando o triplo de tempo e dificuldade que teria e gastaria caso estivesse sóbrio. Tomei um banho rápido e joguei-me na cama, apenas com a toalha envolta na cintura, sem ter me secado. Senti algo mover-se ao meu lado, deduzi ser Akio, mas, quando olhei, vi a imagem de Lisa. Ou pelo menos era aquilo que os meus olhos queriam ver.
Pisquei fortemente os olhos, mas a imagem de Lisa não saia da de Akio, enganando minha mente e fazendo-me acreditar que era realmente ela quem se aproximava de mim e me beijava. Eu estava machucado por dentro. Agora era meu coração que doía e que me fez chorar, coisa que já estava há anos sem fazer.

Eu o abracei pensando ser ela, o acariciei pensando ser ela, o ouvi gemer meu nome pensando ser ela, o beijei pensando ser ela e, finalmente, ejaculei dentro dele pensando ser ela...

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