Vírgulas - Fic (25 ao 27)

| sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Capítulo 25 - Truth
Goro havia chegado na sexta e ainda não havia ido até a casa de Fujo, reaparecendo milagrosamente no fim do expediente com os braços cheios de pincéis, quadros, telas e tintas diversas.

-Olá, primo; olá Ayako-chan. Estão indo para casa? Pode me dar uma carona, Fujo? Ah, obrigado.

Disse ele já colocando o material no banco de trás do carro de Fujo, que nem ao menos pode responder a pergunta de Goro. O caminho para a casa de Fujo foi bem animado, até. Goro conseguia levantar o astral de qualquer coisa, menos de Fujo, que continuava sempre sério e pouco falava. Como era sexta, eu iria passar o final de semana na casa de Fujo e voltava domingo antes do almoço para poder curtir a minha família. Não me esqueci deles, claro.
Quando chegamos à casa de Fujo já era hora de jantar, mas ele não janta então eu me juntei aos pais dele e ao seu irmão, que andava meio virado comigo por motivos compreensíveis. Goro entrou e já foi correndo para o quarto, sem cumprimentar ninguém. Akio, que não se lembrava do primo, cuspiu assustado a comida de volta no prato ao ver um desconhecido entrar em sua casa.

-P-pai! Quem era aquele?! Entrou um estranho aqui em casa, você viu!?
-Acalme-se, meu filho. É seu primo Goro, não se lembra dele?
-Ah, eu não sei... Não deu para ver o rosto dele com todas aquelas telas na mão. Ele gosta de pintar?
-Ele é um pintor, querido. – respondeu a mãe – ele pinta por prazer e já fez algumas exposições de suas obras. Ele deve estar inspirado agora, por isso saiu correndo. Quando ele terminar, vá cumprimenta-lo.
-Por que não posso fazer isso agora?
-Hum... Acho melhor não, querido. Seu primo se torna um pouco “intolerante” quando o interrompem no meio de uma pintura.

Ela tentou amenizar, mas eu vi o semblante meio nervoso dela ao dizer “intolerante”; ele deve ficar uma fera quando fazem aquilo, isso sim. Mas Akio era atentado, portanto, ele comeu rapidamente a comida e disse que iria jogar um pouco no quarto quando, na verdade, eu sabia que ele iria é perturbar o primo recém-chegado só porque disseram para ele não fazer isso.
Goro já havia montado seu ateliê improvisado em seu quarto, puxando a mesinha para usar de apoio para seus pincéis e tintas enquanto que a tela era estrategicamente posicionada de frente para a janela e de costas para a porta, de modo que toda a claridade do luar e do dia batessem ali. Goro estava concentrado em sua pintura. Do terno que estava vestindo, restaram apenas a camisa e a calça que usara para trabalhar. Seu paletó estava sobre a cama para não manchar e sua gravata amarrada em sua testa, para que seus cabelos não o atrapalhassem; seu porte físico era parecido com o de Fujo, contendo pouca diferença mesmo, já que Goro “metia a mão na massa” para trabalhar com animais, plantações e essas coisas. Ele pintava com muita destreza, estando agora sério e mergulhado na imagem que pretendia passar para a tela, como se ele realmente não estivesse ali. Como se estivesse ligado no automático.
Akio abriu lentamente a porta do quarto e logo deu de cara com Goro pintando, era noite e o quarto era iluminado apenas pela luz do luar, cuja qual iluminava a tela para que Goro pudesse pintar sem o auxilio de uma luz artificial. Sua concentração era tamanha que não percebeu Akio entrar e fechar a porta. O menor aproximava-se sentindo até medo de desconcentrá-lo, mas parecia que ele não estava ali, só não sabia distinguir qual dos dois a situação excluía: ele por não ser notado ou Goro por estar compenetrado na tela. Akio achou melhor voltar, a expressão séria de Goro o fez perceber que realmente não seria uma boa ideia perturbá-lo naquele momento. Quando ele virou-se de costas e pôs-se a andar em direção à porta, acabou assustando-se quando ouviu a voz baixa e suave de Goro.

-Pare!
-A-ah! D-desculpe interrompê-lo, f-foi sem querer... – pedia desculpas, amedrontado.
-Vire-se. Deixe-me ver seu rosto outra vez.

Akio virou-se vacilante, esperando que Goro fosse reclamar, xingar, bater ou seja lá o que.  Goro apenas aproximou-se tocando o rosto do menor, que batia na altura de seu peitoral, analisando fixamente a face de Akio, o que o deixava tímido e envergonhado. Ele pensou em perguntar o que tanto o primo olhava, mas ao puxar o ar para falar, fora cortado pelo maior que continuava com aquela voz mansa, de quem havia acabado de acordar ou de sair de um transe.

-Seu rosto...
-O que tem? Está sujo?
-Não... É perfeito.
-Hã?
-Vamos, diga-me seu nome.
-Ahn... A-akio.
-Akio-chan? Aquele tampinha que eu vi quando tinha treze anos? Nossa como você cresceu. Não me lembro de você ter um rosto tão perfeito, tão delicado...
-Pare de me elogiar, eu nem lembro direito de você.
-Mas lembra. A mente das pessoas é feito uma tela: uma vez pincelada, a tinta nunca mais será removida.
-Eu posso passar outra por cima. Pronto!
-Mas a primeira permanecerá ali. Você passou outra tinta sobre a minha, pequeno? – perguntava com o rosto a milímetros do de Akio.
-N-não me chame de pequeno! Afaste-se! – deu um passo para trás.
-Eu definitivamente preciso pintar seu rosto agora! Pode ir!
-Vai pintar meu rosto agora e me manda ir? Como vai ver meu rosto?! – perguntou indignado.
-Não preciso. Já está tudo aqui. – apontou para a própria cabeça, pegando o pincel e voltando a pintar.
-Você vai pintar por cima de outra pintura que já tinha começado?! Porque não pega outra tela, inteligência?!
-Você pintou outra coisa por cima da minha pintura em sua cabeça, por que não posso fazer o mesmo com seu rosto em minha tela?
-Argh, fique sozinho, então! Boa noite!

Então Akio bateu a porta, deixando Goro sozinho em seu quarto. O primeiro estava deveras curioso querendo saber como iria ficar aquela tela, mas não deixava de ruborizar ao lembrar-se do primo a milímetros de seu rosto.
No dia seguinte, Akio encontrou Goro na cozinha, já de banho tomado e vestindo roupas de ficar em casa mesmo, mas ainda com aquela gravata amarrada na testa, quase beijando Fujo.

-Fujo! – Akio correu até ambos, afastando-os – O que você ia fazer?- perguntou irritado para Goro.
-Ãhn? – Goro perguntava como se tivesse saído de um transe profundo.
-Acalme-se, Akio-kun, ele só estava analisando o rosto de Fujo... – eu intervim antes que sobrasse para Goro.
-Analisando? Daquela distância? Você transa com ele, vê isso e não faz nada?
-Akio!

Fujo exclamou. Todos na cozinha, incluindo os pais de Fujo e Akio, que sabiam que Goro estava apenas analisando o rosto do irmão mais velho, ficaram pasmos. Akio tinha feito aquilo sem querer, no calor do momento, tanto que até ele estava surpreso, tapando a boca com as próprias mãos. Por algum motivo, Goro era o menos assustado dali e foi o primeiro a quebrar o silêncio.

-Calma gente. Nenhuma atrocidade foi dita aqui. Se era para ser segredo, já não é mais. Contudo, não foi nenhum crime confesso. Eles se amam, o que há?
-Fujo precisamos conversar. – disse o pai dele, sério. – E você vem junto, Ayako.
-S-sim, senhor...

Nós quatro – os pais de Fujo, o mesmo e eu – fomos para uma sala mais reservada enquanto que Goro e Akio ficaram na cozinha, o primeiro agora se servindo de um café, prendendo uma torrada em seus dentes e levando a cafeteira cheia debaixo do braço para fora da cozinha.

-E-ei! Vai me deixar aqui?
-Quer que eu te carregue debaixo do outro braço?
-Muito engraçado... – Akio teve um estalo, lembrando-se de quando Goro havia ficado com o rosto próximo do seu, depois de quando o primo havia feito o mesmo com Fujo há pouco – Espere... Então você estava apenas analisando meu rosto?
-Quando? Ontem? Sim, sim. – segurava a torrada com a outra mão livre, mastigando um pedaço da mesma. – Pensou que eu fosse te beijar?
-E-eu? A-ah... Um pouco...
-Tão novo e já pensa besteira.
-E você é velho para dizer isso, né? – perguntou em tom irônico e emburrado.
-Nem imagina. – respondeu já subindo as escadas, deixando Akio no primeiro andar.
-Quantos anos você tem? E-ei! Espere! Me responda!
-Descubra, pequeno. Descubra! - disse Goro acenando antes de sumir da visão de Akio por conta de uma das paredes da casa.

Agora estávamos os quatro num lugar mais reservado da casa. A conversa havia sido longa, algumas exaltações, mas tudo era acalmado logo em seguida. A questão era: eu era novo demais para Fujo e o mesmo era velho demais para mim. Eles não se importavam quanto a ambos serem homens, apenas com a idade e os pais dele chegaram até a pensar que Fujo estaria tentando imitar os passos do tio, coisa que eu desmenti, pois quem seduziu quem nessa história fui eu. A princípio Fujo também não concordava comigo por causa da idade, contudo, eu tive que seduzi-lo até ele apaixonar-se por mim.
Aquilo aliviou a barra de Fujo, mas pesou a minha. Eles começaram a perguntar se eu era algum maníaco sexual ou algo do tipo por seduzir um homem de 28 anos quando garotos da minha idade ainda não pensam nem em sexo, ainda. Antes de terminarem a conversa, os pais de Fujo disseram que iriam falar com meus pais antes de tomarem uma decisão. Quando saímos do cômodo da casa eu pude ver o senhor Daiki pegando o telefone, provavelmente para ligar para os meus pais. Fomos até a sala, Fujo sentou-se no sofá e eu fiquei a fita-lo de pé.

-Fujo...
-O que foi?
-Estou com medo...
-De nos separarem?
-É... – sentei-me atravessado no colo dele, encostando a cabeça no peitoral do mesmo. – Você não teme isso?
-Não.
-Entendo... – abaixei a cabeça, calando-me.
-Se nos separarem, eu vou atrás de você, não importa o canto do mundo que você for, eu irei atrás.

Esbocei um sorriso triste lhe selando os lábios ternamente enquanto que poda sentir as mãos dele afagarem meu corpo. Akio havia escutado a nossa conversa sem que percebêssemos, deixando o cômodo quando nos beijamos. Ele estava desolado. O amor da vida dele amava outro e isso era fato, ele teria que aceitar isso e tentar esquecer, tirar a imagem de seu irmão da cabeça.
Akio então resolveu ir até o quarto de Goro, a única companhia que poderia ter no momento, já que não gostaria de ficar sozinho agora. Entrou sem bater na porta, encontrando o loiro encostado na janela, fitando sua pintura com um sorriso bobo na face.

-Então? – perguntou Goro.
-Eles se amam. O que eu posso fazer?
-Deve ser difícil amar e não ser correspondido, ainda mais quando você convive com ele.
-É... Espere... Como você sabe que eu amo Fujo?! – exclamou surpreso.
-Eu sei de toda a história de vocês dois, pequeno. Conheço Fujo desde quando minha tia disse que estava grávida dele.
-V-você é mais velho de Fujo?!
-Não muito.
-Vou ter que descobrir, né?
-Não precisa, aquilo foi apenas uma brincadeira. Tenho 36 anos, capiche?
-É estrangeiro?
-Não. Só um reles pintor.
-Espere... Você disse que tem quantos anos? – só agora foi perceber a idade que o loiro havia falado.
-36. Ficou surdo ou tem amnésia? – brincou.
-M-mas... Você parece ser mais novo que o Fujo! C-como pode!? – exclamou surpreso.
-Idade não quer dizer nada, Akio. Use seu irmão e eu como exemplos.
-Você disse saber toda a nossa história... Sabe toda mesmo?
-Refere-se de quando matou seu tio?
-V-você não tem medo? – exclamou surpreso outra vez.
-Por que eu deveria ter? Você não matou por matar, teve um bom motivo. Eu faria o mesmo no seu lugar. Foi bem corajoso.
-Você é diferente.
-Isso é bom. Ser normal é algo tão batido neste mundo industrializado... – suspirou dando de ombros – Mas enfim, venha ver minha pintura!

Akio caminhou até Goro, o mesmo deu espaço na janela chegando para o lado de modo que o menor pudesse escorar-se ali também. Ele parou ao lado do loiro, fitando a pintura deste com espanto. Eles só haviam se visto uma vez para que Goro pudesse guardar suas novas feições, mas a pintura representava com riqueza de detalhes o rosto de Akio.
Na pintura Akio estava sentado num banco de praça que ficava bem no centro da tela, segurando uma rosa vermelha e fitando algum ponto no céu enquanto que atrás dele havia a paisagem de uma cidade agitada, que não parava para nada, com fumaças saindo dos carros e um trânsito congestionado além de prédios e arranha-céus gigantescos, todos comerciais, porém só o banco de praça, Akio e a grama que o mesmo pisava foram pintados com tons vivos e vibrantes. O resto foi pintado com variantes de um azul fosco e preto.

-Incrível...
-É, seu primo faz milagres só com a primeira vista. – vangloriou-se.
-Seja modesto, ao menos... – resmungou Akio, indo apoiar as mãos no parapeito da janela, apoiando uma delas sobre a do primo acidentalmente, fazendo-o corar.  – Ah, desculpe-me...
-Tudo bem, fique tranquilo. – Goro saiu da janela, pegando a tela de Akio e a deixando no canto para secar enquanto que pegava outra tela em branco e colocava no lugar. – Bem... O próximo!
-O que pretende pintar?
-É surpresa... – pegou o próprio celular, montando uma playlist para ouvir enquanto iria começar a pintar – Hoje estou inspirado... Que tal um pouco de música?
-Por mim tudo bem.

Akio já esperava alguma ópera ou música clássica, qualquer coisa chata e cansativa de se ouvir, mas bastava apenas se concentrar na tela que ele esquecer-se-ia da música. Quando Goro deu play no celular, o mesmo começou a reproduzir uma música de rock, assustando Akio, que esperava algo mais calmo. Goro segurava o pincel com força, pintando da mesma força e demonstrando o gosto em fazer aquilo, porém sem perder a destreza e a delicadeza da pincelada e do traço, deixando um Akio boquiaberto da mistura agressiva do rock pesado com os traços delicados do primo.


Capítulo 26 - A Ligação
Meus pais estavam querendo conversar comigo e com Fujo depois da ligação que receberam do pai dele. Fomos os quatro no carro de Fujo até minha casa, levando minha mala, pois, certamente, eu não voltaria para lá depois da conversa. Chegando a minha casa eu deixei minha mala na entrada para depois desfazê-la e nos reunimos na sala, com meu pai já prontamente começando a conversa.

-Ayako, você tem noção da diferença de idade entre vocês dois? E o pior: noção de que seduziu um homem muito mais velho do que você? – ele perguntou irritado, porém tentando manter a calma.
-S-sim, pai... Mas eu o amo... Eu amo o Fujo e não vou me separar dele...! – eu dizia afrontando meu pai com pouca coragem.
-Você ainda é novo demais para amar e essas coisas. Novo demais para saber se gosta de garotos ou de garotas. Na sua idade, eu brincava na rua com meus amigos, sem maldade alguma! Como você pode ter se perdido, filho? O que houve com você?!
-Acalme-se, querido...

Minha mãe tentou amenizar a situação que já estava bem tensa para ambos os lados: meu e de Fujo. A conversa entre os seis não durou muito, já estava escurecendo e cada pai ia falar agora a sós com seus filhos que, aliás, o do senhor Daiki ainda não havia falado nada. Manteve-se quieto desde o momento em que Akio havia falado aquilo na cozinha mais cedo. Ele realmente não estava se importando com a situação, já era um homem formado e respondia por seus atos, mas eu não e aquilo me complicava ainda mais.
Fujo ligou o carro e foi embora com seus pais para casa, nós apenas nos fitamos de relance numa despedida silenciosa para até sabe-se quando... Após uma longa conversa com meus pais, eles decretaram que eu não iria mais dormir na casa dos Daiki, nem ir à empresa tão pouco ver Fujo. Eu, claro, protestei e chorei horrores, mas eles não se comoveram. Quer dizer, minha mãe sim, mas meu pai manteve-se firme pelos dois.
Eu não tinha mais como ver nem falar com Fujo. Passava o dia trancado em casa já que ainda estava de férias. Logo se passou uma semana e nada dele... O que será que ficou decido com os pais dele? Eu estava sentado no sofá quando o telefone tocou e eu atendi, já que o mesmo estava ao meu lado. Era Akio.

-Ayako-chan! Que bom que atendeu! Preciso falar rápido com você! – ele sussurrava, dando a entender que estava ligando escondido.
-O que foi, Akio-kun? – minha mãe ouviu o nome do irmão de Fujo e foi até a sala, mandando desligar. – Mas mãe, é só o irmão dele! Eu boto até no viva-voz se você quiser!
-Desligue!
-Cinco minutinhos, mãe! Ele quer falar uma coisa muito importante!- ela cedeu.
-Certo. Mas deixe no viva-voz, eu quero ouvir o que ele tem a dizer.
-Ok! – apertei o botão do viva-voz e botei o telefone no gancho. – Pode falar, Akio-kun!
-Ah, como demorou! Então, o Goro me emprestou o celular dele pra ligar escondido já que os telefones foram bloqueados para o seu número.
-O que houve?
-É que, quando meus pais e o Fujo estavam voltando para casa no dia em que foram ai, eles sofreram um acidente.
-Céus! E como eles estão, Akio?! – perguntei já preocupado e assustado.
-Meus pais estão bem, só tiverem ferimentos leves, mas o acidente foi num cruzamento, o motorista do outro carro estava bêbado e desrespeitou o sinal, pegando em cheio a parte do outro motorista, ou seja, Fujo...
-AKIO! COMO ELE ESTÁ? AKIO!

Eu me desesperei no telefone, já começando a chorar e gritando como Fujo estava, o que chamou a atenção de meu pai, que estava no quintal lavando o carro e de minha mãe, que levava ambas as mãos à boca, assustando-se com o meu desespero e pelo acidente que Fujo sofreu. Meu pai entrou na sala pelo mesmo motivo de minha mãe, mas ele estava irritado, não queria que eu mantivesse contato com ninguém de lá. Graças a minha mãe ela o acalmou contando a situação, deixando meu pai preocupado também. Akio nos passou o endereço do hospital antes de dizer a situação de Fujo.

-Ele está internado no hospital em coma e os médicos não sabem quando ele vai acordar. Pode ser daqui a uma hora como pode ser daqui a um ano... Ayako? – sem resposta – Ayakoooo? Ah, droga, deve ter caído a ligação...


Capítulo 27 - Adormecido
Não havia caído, era eu quem estava em choque. Akio desligou o telefone e eu chorava em silêncio, encolhendo-me no sofá e ainda custando a acreditar. Meus pais me chamavam, me cutucavam, mas eu continuava inerte, apenas com as lágrimas descendo. Fechei fortemente os olhos, gritando em plenos pulmões o nome de Fujo, desabando a chorar desesperadamente. Meus pais, por vez, ficavam comovidos com minha reação, eu só repetia o nome dele enquanto chorava, chorava e chorava. Meus pais entreolharam-se, acho que estavam recebendo a maior prova possível de que eu realmente o amava, mesmo eu não percebendo isso.

-Ayako, arrume-se, nós vamos te levar ao hospital.

Disse meu pai, eu prontamente corri para meu quarto, pegando a primeira jeans e a primeira blusa social que vi, enfiando os pés no tênis da escola mesmo. Entramos todos no carro e meu pai dirigia correndo até o hospital, cortando caminho por onde podia, ele sabia que eu estava desesperado para vê-lo. Chegamos em 10 minutos, o hospital estava vazio e eu corri até a recepção, perguntando pelo quarto de Fujo enquanto que a mulher me empurrava toda aquela burocracia para vê-lo. Minha mãe tentou acalmar-me enquanto meu pai dava um jeito e, em cinco minutos, já estávamos liberados para visita-lo. Esperei apenas ela me dizer o quarto para sair correndo pelos corredores, procurando pelo mesmo.
Não o achei pelo número, mas sim pelos pais de Fujo, que estavam sentados em frente ao mesmo esperando o médico que estava lá dentro examinando-o. Eu parei em frente a eles e tentei abrir a porta, mas estava trancada, virei-me na direção deles e perguntei esbaforido.

-C-como está ele? C-c-como está Fujo?
-Ele está bem, querido, só está com alguns ferimentos e... – a mãe de Fujo pausou, tentando conter o choro – E está em coma...
-Me desculpe, senhora Daiki. Não queria ter feito a senhora chorar... – nesse momento o médico destrancou a porta e saiu junto com duas enfermeiras. – D-doutor! Eu posso ver o Fujo agora?
-Pode sim, rapaz. Entre.

Eu olhei para os pais de Fujo e os mesmos assentiram com a cabeça, deixando-me entrar. Quando coloquei a mão na maçaneta da porta senti meu coração falhar com medo de encontra-lo num péssimo estado, mas eu precisava vê-lo. Eu tinha que vê-lo. Abri a porta de maneira vacilante, tendo minha visão brevemente ofuscada pela claridade do quarto. Fechei a porta atrás de mim e corri até Fujo, vendo-o deitado na cama, inconsciente, com vários machucados pelo rosto e peitoral que, aliás, ambos estavam enfaixados. Além disso, ele respirava com a ajuda de dois tubinhos que ficavam um em cada narina, jogando oxigênio para os pulmões dele.
Eu logo comecei a chorar ao vê-lo naquele estado. Sentei na beira da cama, o chamando com a voz mansa como quando o chamava quando estávamos às sós, unidos. Beijei-lhe os lábios ressecados, assustando-me ao notar o quão frio estavam. Resolvi esquentá-los e umedecê-los com minha língua carinhosamente, sem malicia e sem perceber que meus pais olhavam-me pela janelinha da porta. Deitei-me na cama ao lado de Fujo, tomando cuidado para não tocar em nenhuma de suas feridas, encaixei minha cabeça em seu pescoço, chorando baixo enquanto que sussurrava em seu ouvido.

-Fujo... Eu sei que você está me ouvindo... Volte pra mim... Por favor... – ele permaneceu imóvel - Como eu posso ser a sua luz, se você se afogou na escuridão? Vamos... ACORDE!

0 xingamentos :

Postar um comentário

Quem vos fala:

▲Top▲